Speakers

Palestrantes confirmados

Dra. Eliana Marques Cancello

Museu de Zoologia da USP

Curadores e coleções: espécies ameaçadas? Reflexões a partir da coleção de Isoptera do Museu de Zoologia da USP (MZUSP)

Apesar de alguns artigos científicos na literatura recente reafirmarem de maneira muito positiva a importância de coleções para estudos de biodiversidade, a diminuição do número de curadores pelo mundo é uma tendência muito preocupante. Discutimos o papel do curador especialista na curadoria adequada de coleções zoológicas a partir dos dados concretos da coleção de cupins do MZUSP, que já tem aproximadamente 80 anos. As primeiras amostras incorporadas à coleção foram resultado de expedições de seu primeiro curador, Renato Lion Araujo, que também recebeu material importante, incluindo tipos, como doação de seus colegas contemporâneos, como por exemplo, A.E.Emerson. A partir de 1986, a primeira autora (EMC) passou a ser a curadora responsável e a coleção cresceu muito desde então, principalmente por projetos desenvolvidos pela curadora, seus alunos e colaboradores. Assim, a maior parte das amostras foram identificadas no âmbito destes projetos, por especialistas, pesquisadores associados e/ou alunos como parte de suas teses. Nos últimos dois anos, um banco de dados vem sendo desenvolvido, e praticamente todas as amostras já estão incluídas. A coleção abriga cerca de 27500 amostras em álcool 80% e mais cerca de 4500 em álcool 96%, mantidas em condições para extração de DNA. Em termos de cobertura geográfica pode-se afirmar que a coleção cobre praticamente todo o Brasil (95% dos registros), e o restante corresponde a outros países da Região Neotropical, da Região Paleártica, Africana e Australiana. Exceto pela família Stylotermitidae, as outras oito famílias estão representadas, compreendendo 169 gêneros e 651 espécies. Em torno de 80% das amostras estão georeferenciadas, somando 10500 localidades. Termitidae é de longe a melhor representada, inclusive porque as pesquisas do laboratório concentraram-se principalmente em táxons desta família. Apresentamos mapas de localidades e de esforço de coleta (número de amostras /localidade), como base de discussão da distribuição de cupins na América do Sul, bem como base para possíveis novas questões de biogeografia, filogeografia e modelagem ecológica usando estes insetos como objeto de investigação. Pesquisas conduzidas com o suporte de coleções curadas adequadamente por especialistas, tem um potencial muito amplo e abrangente, como é o caso da coleção em foco.

Dra. Judith Korb

University of Freiburg

The secret of a long, fecund life: Why termite queens can live so long

Reproduction almost universally shortens lifespan. Why is this the case, if boosting both would increase evolutionary fitness? Social insects seem to have overcome this fundamental life history trade-off between fecundity and longevity. In colonies of honeybees, ants and termites, queens are highly fecund and have extraordinary long lifespans. Why this is the case, is still unclear. We investigated ultimate causes and proximate mechanisms of the reversal of the fecundity/longevity trade-off in a lower and a higher termite. Increasing the fecundity of Cryptotermes secundus queens (Kalotermitidae) did not affect the queens’ survival nor their subsequent fecundity. However, the workers’ suffered from reduced survival. This suggests that workers take over the queens’ burden and hence buffer the queens from adverse effects. Mechanistically, the lifespan of termites seem to be linked with the activity of transposable elements (TEs). These ‘jumping genes’ were highly active in old, short-lived workers of the fungus-growing termite Macrotermes bellicosus (Termitidae), while queens and kings seem to be protected against TE activity by a molecular pathway that protects the germline from ageing in solitary organisms. Our studies provide support for a superorganismic view of termite colonies where workers function as ‘disposable soma’ and queens and kings as germlines.

Dr. Nan-Yao Su

University of Florida

Tunneling behavior, inter-colonial interaction and area-wide management of subterranean termites

Studies of the geometric pattern of subterranean termite tunnels revealed rules dictating their tunneling behavior, which can be described by an algorism and duplicated by simulations.  Laboratory studies with 2-dimensinal arenas documented intra- and inter-specific encounter of subterranean termite colonies when their underground tunnels intercept. The implication of such behavior in an area-wide management program with the Formosan subterranean termite, Coptotermes formosanus will be discussed.

Dra. Rebeca Rosengaus

Northeastern University, College of Sciences, Boston, USA

Young but not defenseless: Constitutive antifungal activity during embryonic development of a social insect

Termites live in environments heavily colonized by diverse microbial communities, including pathogens. Eggs oviposited within the nest likely experience similar pathogenic pressures as those encountered by older nestmates and thus, termite embryos may have been selected to also be immune-competent. After characterizing three distinct embryonic stages, we systematically tested the ontogeny and nature of termite embryos’ antifungal activity against the ecologically relevant, entomopathogenic fungus Metarhizium brunneum. We incubated extraembryonic washes and intraembryonic components with fungal conidia and quantified conidia germination rates. Our results show that while embryonic volume increased with development, total protein decreased. Protein profiles shifted from three putative vitellogenins in recently oviposited embryos to multiple proteins in later stages. Fungistatic activity was location- and stage-dependent. Extraembryonic washes had weak antifungal activity whereas intraembryonic contents were highly antifungal, with increased potency in later stages. Heat eliminated this antifungal activity, suggesting that the antifungal agent(s) is proteinaceous. These data show, for the first time, constitutive, endogenous embryonic defenses against mycosis in a termite. Our results support the hypothesis that microbes colonizing termite nests have been significant agents of selection, fostering the evolution of antifungal properties even in embryos, the most immature and supposed most vulnerable stage of development.

Dra. Ana Maria Costa-Leonardo

Universidade Estadual Paulista Júlio De Mesquita Filho – Rio Claro

O comportamento suicida em cupins Neotropicais

Predação e competição são os processos responsáveis pela evolução dos mecanismos defensivos dos cupins. Embora os soldados constituam a linha de frente das colônias e sejam conhecidos como a casta defensiva especializada, os operários de cupins têm uma participação efetiva na defesa dos ninhos. O comportamento de defesa suicida constitui uma forma extrema de altruísmo, uma vez que um indivíduo sacrifica sua vida em benefício da colônia, e esse processo está ligado a castas estéreis, como soldados e operários. O comportamento suicida de operários pode ocorrer tanto em espécies que possuem soldados como naquelas que perderam essa casta durante a evolução. Esse tipo de defesa ocorre em espécies com poucos soldados na colônia ou até em áreas de forrageamento, mas esses ‘camicases” também sofrem alta predação por formigas. Para o indivíduo morrer em defesa da colônia é necessário que o mesmo tenha uma adaptação morfológica apropriada, a qual proporciona o comportamento suicida. Aceita-se que a defesa suicida ocorre por meio de deiscência abdominal ou autótise, a última envolvendo uma glândula exócrina. Contudo, muitas vezes, a aparente deiscência é autótise. Soldados apresentam autótise da glândula frontal na família Serritermitidae, mas também existem relatos de ruptura dessa casta na subfamília Termitinae. Operários de Neocapritermes opacus, N. braziliensis e N. taracua apresentam comportamento suicida devido a autótise, sendo comprovada a participação das glândulas salivares nesse processo, além da glândula cristal em N. taracua. A secreção viscosa liberada por N. braziliensis contém toxinas, inclusive neurotoxinas que também estão presentes em aranhas e escorpiões. Muitos operários de Apicotermitinae possuem órgãos de defesa especiais, os órgãos deiscentes que são responsáveis pelo comportamento defensivo suicida. Em Ruptitermes reconditus e R. pitan a cola liberada contém proteínas similares a mucina, responsáveis pela viscosidade que imobiliza os inimigos.

Dra. Juliana T. Lima

Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul – Dourados

Assinatura química dos cupins: variações intra e interespecíficas dos hidrocarbonetos cuticulares em Cornitermes cumulans Velocitermes heteropterus

Os compostos cuticulares dos insetos são constituídos por uma mistura de lipídios, tendo como funções compor uma barreira contra a dessecação e o estabelecimento de patógenos. Por outro lado, estes compostos também podem sinalizar a função que o indivíduo desempenha na colônia, atuando como feromônios superficiais. Existem, na literatura, algumas poucas pesquisas analisando a variação dos hidrocarbonetos cuticulares (CHCs) presentes nas diferentes castas de uma colônia ou entre indivíduos provenientes de colônias distintas, fato que justifica a necessidade de novos estudos na área. Cornitermes cumulans (Kollar, 1832) e Velocitermes heteropterus (Silvestri, 1901) são espécies de cupins nativas do Cerrado brasileiro, sendo que, atualmente, são muito comuns e bem-sucedidas em pastagens e culturas do Brasil, Paraguai e Argentina.  Diante do exposto, esta palestra tem por objetivos ressaltar a importância dos estudos acerca da composição química cuticular de diferentes espécies de cupins, uma vez que os CHCs revelam a assinatura química das colônias de térmitas, além de apresentar alguns resultados referentes às comparações intra e interespecíficas dos perfis químicos das espécies C. cumulans e V. heteropterus. Os compostos cuticulares identificados apresentaram uma variação de 15 a 37 átomos de carbono na sua constituição, e foram classificados como alcanos lineares, alcanos ramificados, alcenos ou alcadienos. Comparando-se os perfis químicos dos grupos de indivíduos coletados, verifica-se que os diferentes CHCs variaram qualitativa e quantitativamente, de acordo com cada casta e/ou colônia estudada. Adicionalmente, observam-se diferenças bastante relevantes a partir das comparações entre ambas as espécies, sugerindo que os hidrocarbonetos cuticulares podem constituir uma importante ferramenta para a compreensão das relações intra e interespecíficas em cupins.

Dra. Joice Constantini

Museu de Zoologia da USP

Como contar para as pessoas o que faz um termitólogo? Análise do engajamento de público do projeto de extensão Wikitermes

Os cupins estão entre os insetos mais odiados do público. Apesar do rótulo, apenas 4% das espécies são pragas importantes, e esses insetos participam de importantes processos ecossistêmicos. Wikitermes é um projeto de extensão cujo anseio é ampliar o repertório científico tendo como ponto de partida a biologia dos cupins. O objetivo deste trabalho é mostrar o engajamento do público no período entre 12 de janeiro de 2018 e 13 de julho de 2019 usando para isso parte das métricas das ferramentas de análise do Facebook e do Google Analytics além da análise qualitativa de 59 comentários realizados por usuários do Facebook em três dos textos publicados. Um total de 1542 pessoas seguem a página no Facebook e 10416 usuários acessaram o site desde janeiro de 2018. Os usuários no site são de 76 países além do Brasil e no Facebook há seguidores de 44 países além do Brasil. Não há diferença significativa na quantidade de usuários em relação ao sexo. A faixa de idade da maior parte dos usuários está entre 25 e 44 anos. Foram analisados 1266 perfis de seguidores com dados públicos no Facebook, dos quais 694 têm formação relacionada à área de Ciências Biológicas, e 44 trabalham com controle de pragas. O tempo médio de permanência nas páginas no site é de 2 minutos e 9 segundos, tempo suficiente para a leitura da maior parte dos textos publicados. O texto mais acessado no site foi sobre a mudança de ranqueamento de ordem dos cupins, com 3.750 visitas. Os comentários foram divididos em três categorias: 18 comentários expressaram interesse positivo pelos cupins; 11 comentários expressaram aversão ou ressaltaram aspectos negativos e 30 comentários expressaram dúvidas ou levantaram outros temas. O desconhecimento da história natural dos cupins induz o público leigo a uma visão negativa do grupo, e os dados de engajamento do Wikitermes mostram que existe interesse em conhecer mais sobre biodiversidade e que é possível mudar a fama desses insetos.